O maior império da arte circense ruiu em três meses de pandemia. O Cirque du Soleil, gigante mundial com sede em Montreal, Canadá, pediu insolvência e despediu 3500 trabalhadores. Com 40 espetáculos cancelados em todo o Mundo, a maior companhia de artes performativas do planeta precisa de 150 milhões de euros só para devolver o dinheiro de bilhetes já comprados.

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Cirque du Soleil pediu insolvência, expondo crise do setor. Foto: Cirque du Soleil/DR

 

A pandemia foi o golpe final numa estrutura que há muito dava sinais de estar enfraquecida. Segundo o jornal espanhol “El País”, a companhia tinha uma dívida de 850 milhões de euros há cinco anos e a quebra de faturação decorrente da covid-19 não lhe deixou alternativas. Mas ainda há alguma esperança.

 

Esta semana, a companhia anunciou que pediu a proteção judicial contra penhoras e a decisão é tomada pelo Tribunal Superior do Quebeque. Se for aprovada, fica o caminho aberto para o prometido investimento de 300 milhões de euros dos acionistas, aos quais se soma o empréstimo de 182 milhões do Governo do Quebeque e os 45 milhões que os acionistas injetaram em maio. A Cirque du Soleil afirma também que os accionistas colocaram de lado 20 milhões de dólares para esse efeito (17 milhões de euros). O objectivo é voltar a contratar a “maioria” dos trabalhadores, assim que as condições do negócio o permitirem. A companhia de circo vai tentar restruturar a sua dívida com menos trabalhadores — cerca de 3500 postos de trabalho foram cortados.

 

“Ninguém jamais imaginou o que poderíamos fazer se perdêssemos 100% da nossa receita”, disse ao NYT Mitch Garber, actual presidente da companhia, comparando mesmo a situação actual de pandemia e as suas consequências na indústria do espectáculo e do entretenimento com a Grande Depressão dos anos 1930, nos EUA.

 

Um mês antes da insolvência, Rui Paixão era o palhaço voador que integrava a colossal produção que o Cirque du Soleil apresentava na China. A saída da companhia e o regresso a Portugal já estavam agendados e Rui Paixão voltou um mês antes do desmoronamento do império do circo.

 

Por cá, Paixão encontrou a arte circense pior do que a deixara e tem um posicionamento muito crítico. No Cirque du Soleil, tinha contrato. Em Portugal, sente-se “marginalizado”.

Revolução estética no circo

 

Fundado em 1984 por um colectivo de performers, dançarinos, acrobatas, músicos e outros artistas liderado pelo ex-comedor de fogo Guy Laliberté, e que começou por deliciar os espectadores no porto antigo de Montréal, no St. Lawrence River, Le Cirque du Soleil mudou a visão contemporânea desse que já fora “o maior espectáculo do mundo”, mas que entretanto tinha entrado em decadência.

 

Antes da pandemia, a companhia continuava a apostar em desafiar os limites do género, a fazer uma extravagância sobre o tema da água, em Las Vegas, que atraía 10 mil espectadores por noite, ou The Land of Fantasy mas outras nem tanto como o Parabour do ano de 2016 que custou para a produção 25 milhões de dólares e foi um fracasso na Broadway. A partir do negócio milionário realizado por Guy Laliberté ao vender a maioria do capital do seu circo a um fundo texano liderado pela TPG Capital (60%), e também aos chineses do Fosun Capital Group (20%) e a um fundo de pensões do Quebeque (CDPQ).

 

É nas mãos destes accionistas que está agora a batata quente da situação aflitiva do Cirque du Soleil, que a agência Moody’s já declarou “em risco elevado de falência até ao final do ano”, refere o Le Monde.

JN/MS

O Cirque du Soleil, gigante mundial com sede em Montreal, pediu insolvência